Banner oficial do Amazônia Global Summit 2024

Reflexão crítica sobre o 'Amazônia Global Summit 2024' realizado em Manaus.

Muitos olham para a Amazônia e enxergam apenas a imensidão verde, o santuário ecológico. O Instituto Social Terra & Gente enxerga além. Nós enxergamos as mãos que plantam, os pés que caminham na terra batida, as famílias que vivem nas margens dos rios. Enxergamos a Gente que dá sentido à Terra.

"Nascemos de uma certeza inegociável: não existe floresta em pé com povo de joelhos."

Nosso papel nunca foi “levar soluções prontas” para as comunidades. Pelo contrário: nosso compromisso é organizar a potência que já existe, sistematizando saberes locais para transformá-los em projetos de vida, renda, autonomia e dignidade. Para nós, os verdadeiros donos da floresta são os povos amazônicos e é a voz deles que deve guiar qualquer discurso de futuro.

É por isso que não podemos silenciar diante de um fenômeno crescente: a multiplicação de eventos globais sobre a Amazônia que falam da floresta, mas não falam com quem vive nela.

O Paradoxo da Visibilidade sem Voz

Em fóruns internacionais e cúpulas socioambientais, inclusive os mais recentes eventos de bioeconomia e inovação verde, a Amazônia é celebrada como fronteira estratégica, laboratório de soluções e vitrine global. Mas, dentro desses mesmos espaços, os amazônidas seguem invisíveis.

Painéis são ocupados por executivos, especialistas, futuristas e consultores. Os temas são dominados por termos importados como economia regenerativa, dados climáticos e ESG de impacto. Tudo parece moderno, sofisticado e urgente. Mas, enquanto isso, quem mora nos ramais, vicinais e periferias continua enfrentando falta de saneamento, ausência de água potável, mobilidade precária e insegurança alimentar.

A agenda global sobre a Amazônia não dialoga com a Amazônia real.

Da Extração Material ao Extrativismo Intelectual

Se antes a floresta serviu como fonte de madeira e minérios, hoje ela se tornou fonte de outro tipo de exploração: a extração das narrativas amazônicas. Discursos são coletados, editados, comercializados e transformados em capital político e financeiro.

Relatórios e pitches vendem a Amazônia como promessa, enquanto seus povos continuam tratados como apêndices do território, não como autores dele. O que deveria ser oportunidade vira vitrine. O que deveria ser participação vira enfeite.

"A Amazônia é colocada no balcão de negócios, enquanto seus habitantes permanecem fora da sala de negociação."

Inovar Não é Excluir

Não somos contra tecnologia, bioeconomia, investimentos ou inovação. Somos contra qualquer modelo que trate a Amazônia como ativo e os amazônidas como “público-alvo”. A verdadeira inovação não acontece em auditórios climatizados, mas nas comunidades que reinventam suas condições de vida todos os dias: na agricultora que cria soluções para o solo, no pescador que administra sua cadeia de valor, na liderança que defende o território.

A Amazônia não é laboratório: é lar. E seus habitantes não são objetos de estudo: são protagonistas.

O Que Defendemos

O Instituto Social Terra & Gente atua onde as grandes agendas raramente chegam. Defendemos três princípios fundamentais:

  • Escuta comunitária como ponto de partida: Nenhuma decisão deve anteceder o diálogo real.
  • Autonomia como meta: Projetos devem fortalecer capacidades locais, não criar dependência.
  • Justiça socioambiental como eixo: Floresta de pé só existe com gente de pé.

Conclusão

A Amazônia não precisa apenas ser defendida, precisa ser democratizada. Isso significa romper com o ciclo de eventos que elogiam a floresta, mas ignoram seu povo. Rejeitamos qualquer modelo que continue repetindo a lógica histórica de “Decidimos por vocês, para o bem de vocês”.

Queremos uma Amazônia que fale por si, negocie por si e construa seu futuro com suas próprias mãos. Porque a floresta é viva. E seu povo também.

Instituto Social Terra & Gente

Comunicação Institucional