A Pedagogia da Porta-a-Porta
Em 2007, a Terra Nova enfrentava um desafio silencioso, mas crescente: o acúmulo desordenado de resíduos sólidos. Não se tratava apenas de um problema de coleta pública, mas de uma questão cultural profunda sobre como lidamos com o que consumimos.
O Projeto Reciclar nasceu dessa leitura de cenário. Entendemos que implementar a coleta seletiva sem antes trabalhar a consciência do morador seria ineficaz. Foi preciso desenvolver uma metodologia pedagógica de abordagem direta, transformando cada visita domiciliar em uma pequena aula de cidadania e responsabilidade ambiental.
Essa experiência, realizada entre abril e outubro de 2007, fundamentou a visão socioambiental do Instituto: a sustentabilidade na periferia não se impõe por decreto, ela se constrói na conversa, no exemplo e na persistência.
Washington Luís S. Leal
Gestor de Projetos
A Proposta (O Início em 2007)
A proposta do Projeto Reciclar foi introduzir, de forma experimental e pedagógica, a cultura da separação de resíduos na comunidade. O objetivo não era apenas a coleta em si, mas a reeducação ambiental das famílias.
Para fundamentar essa ação, contamos com a valiosa colaboração do senhor Luiz Atayde. Com vasta experiência em movimentos sociais em grandes centros como São Paulo, Atayde trouxe uma visão técnica e histórica sobre a gestão de resíduos e mobilização urbana, ajudando a adaptar conceitos complexos para a realidade local da Terra Nova.
Memória Viva: A Reunião de Articulação
O Registro Histórico (15 de Julho de 2007)
Fonte: Arquivos de Atas e Reuniões da Coordenação
Um marco decisivo para o amadurecimento do projeto foi a reunião realizada num domingo, dia 15 de julho de 2007. O encontro aconteceu em uma sala de aula da Escola Municipal Ana Sena Rodrigues, espaço gentilmente cedido pela Associação de Pais e Mestres (APMC), demonstrando a integração entre a escola e a causa ambiental.
O objetivo foi reunir formadores de opinião, membros da comunidade e lideranças locais para debater as diretrizes do Projeto Reciclar no Bairro Terra Nova I.
Participantes Históricos:
- José Maria
- Mirna Lisboa
- Luiz Ataíde
- Raimundo Souza Barros
- José dos Santos
- Elane Neves Leal
- Luis Alves de Sá
- Franckineire de Almeida
A Ação Educativa
A execução do projeto se deu através de uma campanha intensiva de visitas. A equipe percorreu as ruas da Terra Nova, batendo de porta em porta. A metodologia não era apenas entregar um panfleto, mas estabelecer um diálogo:
- Escuta Ativa: Entender como cada família lidava com o lixo doméstico.
- Informação Técnica: Explicar a diferença entre lixo orgânico e reciclável de forma simples e direta.
- Conscientização: Mostrar o impacto do descarte incorreto nos igarapés e na saúde pública do bairro.
Resultados e Aprendizados
Semeando Consciência
O Projeto Reciclar foi um laboratório social. Durante sete meses, testamos a receptividade da comunidade para temas ambientais. O resultado foi um mapeamento claro das dificuldades e potenciais para a implementação futura de uma coleta seletiva estruturada.
A experiência provou que a barreira não era a falta de vontade do morador, mas a falta de infraestrutura e de informação continuada. O projeto deixou como legado um grupo de famílias sensibilizadas e uma equipe técnica mais preparada para lidar com os desafios ambientais urbanos.
O DNA Ambiental do Instituto
O "Reciclar" (2007) não foi um evento isolado; foi o precursor das metodologias ambientais que o Instituto desenvolve hoje. A compreensão de que a gestão de resíduos passa obrigatoriamente pela educação comunitária nasceu ali, naquelas visitas e nas trocas de experiências com mentores como Luiz Atayde.
Aplicação Institucional:
- Observatório OCRU: A metodologia de diagnóstico participativo utilizada hoje no mapeamento de riscos tem suas raízes na abordagem direta testada no Projeto Reciclar.
- Núcleo de Bioeconomia: A visão de transformar "lixo" em renda e desenvolvimento local começou a ser debatida e experimentada nestas primeiras intervenções.
Validamos que a educação ambiental não é um anexo do desenvolvimento social, mas o seu alicerce.