A Segurança Alimentar como Estratégia de Mobilização
O projeto da Horta Comunitária, desenvolvido em 2006, estabeleceu um dos pilares metodológicos do que viria a ser o Instituto Social Terra & Gente: a capacidade de transformar espaços ociosos em ativos sociais produtivos através da articulação comunitária.
A experiência técnica adquirida junto ao ITEAM (Instituto de Terras do Amazonas), somada à vivência prática nas zonas rurais e periféricas, permitiu compreender que a segurança alimentar é um vetor poderoso de engajamento. Quando a comunidade vê o resultado do seu trabalho brotar da terra e alimentar suas crianças, o senso de pertencimento se fortalece.
Hoje, essa expertise fundamenta a atuação do Instituto na elaboração de projetos de agricultura urbana e periurbana, não apenas em Manaus, mas também em municípios do interior, comunidades indígenas e quilombolas. Nossa gestão técnica foca em desenhar soluções autossustentáveis, capazes de captar recursos e gerar impacto duradouro.
Washington Luís S. Leal
Gestor de Projetos
A Proposta (O Estudo de Caso de 2006)
A proposta do Projeto Horta Comunitária nasceu em 2006, como uma resposta direta à necessidade de melhorar a qualidade nutricional na Escola Municipal Ana Sena Rodrigues. A iniciativa surgiu dentro da APMC (Associação de Pais, Mestres e Comunitários), identificando a oportunidade de converter um passivo ambiental (terreno baldio) em ativo educacional.
O objetivo técnico foi claro: desconstruir a estrutura antiga e abandonada para implementar uma nova horta funcional. A produção foi planejada para servir como complemento alimentar na merenda escolar, integrando conceitos de educação ambiental, trabalho coletivo e segurança alimentar na grade curricular prática dos alunos.
Etapa 1: O Diagnóstico (O Mapeamento)
O diagnóstico inicial revelou um cenário de desperdício de potencial. A escola possuía uma área designada para cultivo, mas que se encontrava completamente abandonada e tomada por vegetação densa ("só mato"). Era um espaço improdutivo dentro do ambiente escolar, sem função pedagógica ou social.
A análise técnica identificou o problema central: um recurso valioso (terra agricultável urbana) estava subutilizado, enquanto a escola demandava alimentos frescos para o corpo discente. A intervenção foi desenhada para provar que a mobilização organizada da comunidade poderia reverter esse quadro de abandono com baixo custo e alto impacto.
Etapa 2: A Intervenção (O Mutirão)
A Força da Articulação
O sucesso desta metodologia baseou-se na articulação intersetorial. A ação foi executada através de um mutirão intensivo que mobilizou diversos atores sociais durante o mês de maio, criando uma rede de colaboração efetiva:
- Membros do Núcleo da Terra Nova, responsáveis pela coordenação logística;
- Jovens alunos da escola, integrados ao processo como atividade educativa;
- O grupo Liberdade Negra, fornecendo mão-de-obra para a limpeza pesada e reconstrução;
- Técnicos agrícolas, que garantiram a assistência técnica necessária para o plantio correto.
Registro Histórico: O Desafio Inicial (A Horta Antiga)
Registros fotográficos do estado original de abandono do terreno e o início do processo de recuperação realizado pelo mutirão comunitário.
Registros do estado de abandono e o início da intervenção.
Etapa 3: Da Execução à Metodologia de Formação
O Projeto Horta Comunitária constituiu um segundo ciclo de aprendizado em gestão social e mobilização de parcerias, validando que a metodologia aplicada anteriormente no PJCE era replicável em diferentes contextos. Sem financiamento público direto, a equipe técnica demonstrou capacidade de:
- Identificar um problema real e visível (espaço ocioso) e propor uma solução prática (horta produtiva).
- Articular múltiplos parceiros com habilidades complementares (alunos, técnicos, grupos sociais).
- Planejar e executar uma intervenção física que gerou um resultado tangível e benéfico para a comunidade escolar.
Aplicação Institucional:
Esta experiência prática compõe o acervo técnico que o Instituto Social Terra & Gente oferece hoje. Utilizamos essa metodologia validada para:
- Capacitar líderes comunitários, associações, clubes de mães e prefeituras a replicarem esse modelo de diagnóstico e execução em seus territórios.
- Prestar Consultoria a órgãos públicos na estruturação de projetos de segurança alimentar para captação de recursos em editais, garantindo viabilidade técnica e impacto social.
A autoridade do Instituto não reside apenas na teoria, mas na validação prática de soluções que funcionam no território.